continuação...
Começamos
esta série vendo
que Bíblia tem muito pra falar a respeito de nossa solidão. O primeiro ponto
que vimos foi que o Senhor Jesus nos faz companhia e é nele que devemos confiar
quando a solidão nos atinge. Veja o que Davi diz no Salmo 27: “se
meu pai e minha mãe me desampararem, o SENHOR me acolherá”. Deus se
importa com a solidão de seus filhos, e não os desampara.
Nesta
parte vamos abordar um outro aspecto da solidão, um que tem a ver com o que é
realmente importante para nós.
Amamos as pessoas.
Ninguém
gosta, de verdade, de ficar só. Alguns de nós gostamos de ter tempo para
pensar, sem o barulho do pessoal ao redor, mas, porque fomos feitos para viver
em comunidade, em comunhão, não gostamos da solidão. Ela nos deforma e
entristece. Em Gênesis 2.18 vemos claramente que a solidão não combina conosco.
Assim, não gostamos da solidão. Gostamos de ter pessoas conosco. Falando de
modo mais específico, queremos UMA pessoa conosco, para desfrutarmos de uma
relação parecida com a que havia entre Adão e Eva. Esse desejo de companhia
(tanto da companhia dos amigos quanto da companhia “mais específica”) não é
algo errado ou ruim – é bom. Mas…
O nosso amor pelas pessoas é afetado pela queda.
Podemos
ver em Gênesis 3 o trágico relato da queda, que afeta tudo o que há em nós. Não
há nenhuma área da vida humana, nenhum aspecto da nossa existência, que não
tenha sido deturpado, manchado e deformado pelo pecado. Não se trata apenas de
coisas erradas que fazemos, mas daquilo que somos – nossa natureza é contrária
a Deus e, por isso, contrária a tudo o que é verdadeiramente belo e bom. A
beleza da companhia dos amigos e da companhia de um cônjuge também foram
terrivelmente afetadas pela queda. O que antes era um desejo saudável de estar
perto de outras pessoas, torna-se uma vontade muito, MUITO grande de ser aceito
pelo grupo. O que foi planejado para ser uma aspiração ao casamento, torna-se o
centro da vida e motivador principal de ação.
Tememos as pessoas.
Em algum
momento da caminhada, as pessoas (aquelas, que amamos!) tornam-se nossos
ídolos. Erroneamente se tornam a fonte potencial de nosso prazer, alegria,
felicidade, realização. Pensamos que não seremos felizes se não houver amigos.
Não seremos plenos e realizados se não houver um cônjuge. Não vai ser massa se
os ícones em nossa página no Facebook estiverem azuis, sem nenhuma notificação.
Chamamos isso de temor do homem: quando as pessoas são infinitamente importantes,
a opinião delas é a fonte da nossa esperança e a possibilidade de sermos
rejeitados é algo tão grandioso e terrível que mudamos o que for preciso para
não ficarmos sozinhos. E quando ficamos solitários, todo o resto não importa
mais. O que realmente importa é podermos desfrutar da companhia das pessoas.
Somos todos idólatras.
Não é
sempre assim, mas na minha experiência (e creio que, possivelmente, na sua
também) o sentimento esmagador de solidão é apenas um sintoma de algo muito
mais grave: a idolatria. Deus não é mais nossa maior alegria, Jesus deixa de
ser todo-suficiente para nós, e porque o universo não é exatamente como
gostaríamos que fosse, ficamos tristes, emburrados. Nosso rendimento cai, nossa
cara fica feia e as pessoas começam a se afastar, gerando mais solidão. E os
problemas gerados por essa idolatria não param por aí.
Veja o
que diz Edward T. Welch em seu livro “Quando as pessoas são grandes e Deus é
pequeno”:
Qual é a
consequência dessa idolatria às pessoas? Como em toda a idolatria, o ídolo que
escolhemos para adorar logo torna-se o nosso dono. O objeto do nosso temor nos
domina. Embora insignificante por si só, o ídolo torna-se enorme e nos governa.
Ele nos diz como pensar, o que sentir, e como agir. Ele nos diz o que vestir,
nos diz para rir de uma piada suja, e para morrermos de medo de falar alguma
coisa diante de um grupo. Toda a estratégia produz um efeito contrário. Nós
nunca esperamos que usar pessoas para suprir os nossos desejos nos faça
escravos delas.
Então,
chegamos à raiz do problema. O problema não é a dor da solidão, isso é apenas
um sintoma. O problema é a idolatria. O problema é o que está na posição de
maior honra em nossos corações.
Qual a solução?
Não há
uma receita simples para lidar com essa idolatria. É importante reconhecermos
que esse temor do homem é um problema real em nossas vidas. O passo seguinte é
aprender a temer a Deus. Quando tememos a Deus, não precisamos temer mais
ninguém. Por fim, a solução de verdade encontra-se na pessoa e na obra de Jesus
Cristo.
Ainda
que tenhamos que lutar contra essa idolatria até o final de nossas vidas, o
Filho de Deus deu sua própria vida para nos salvar e redimir. Ele pagou pelo
pecado do temor ao homem. Ele pagou pelo pecado da idolatria. Deus nos garante,
em sua Palavra, que irá concluir em nós a boa obra que começou (Filipenses
1.6). Não há uma solução para a idolatria (e seus males, como a dor da solidão
e a dor da paixão não-correspondida) que não esteja em Jesus. Valorizar Jesus
como mais importante do que todo o resto é o caminho para colocar as coisas em
ordem no coração – e não somos capazes de fazer isso por conta própria,
precisamos que o próprio Deus o faça – e ele faz! (Filipenses 2.13)
E o outro tipo de solidão?
No
entanto, não é só quando idolatramos as outras pessoas que a solidão nos
machuca. Existe uma solidão real, que não é simplesmente um efeito do nosso
coração caído buscando satisfação nas pessoas, longe de Deus. Há uma solidão verdadeira
e dolorosa que não é fruto de idolatria, de que trataremos no próximo post da
série.
Por Daniel
TC
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